1. |
Dita
02:18
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Ela pôs a mão na minha testa e me disse:
"como vais querer a verdade do mundo se não sabes o que tem do outro lado desse muro?"
Quando o que impera é o nojo pela minha pele e o chão onde eu piso
Quem vai segurar minha mão?
Quem vai defender minha existência?
Quem vai comprar minhas idéias?
Se até o reflexo me da nojo
Assim como o peso que carrego
É uma extensão do meu próprio corpo
Ponham suas cercas de pé
E façam do seu condomínio um poder bélico
Privatizem tudo enquanto é tempo
Pois o pecado do vizinho é sempre mais verde
Eu quero ver rir por ultimo
Com sua mandíbula rasgada por uma 38
Pôs foi na violência que ele fez seu nome eterno
A culpa é sua por elucidar que tudo aquilo que não tiver controle
Deve ser entendido como inimigo
A culpa é minha por não me deixar seduzir
Por uma revolução filosófica
O que me importa toda essa merda infrutífera?
Se toda vez que eu volto tarde qualquer sentença é de morte
A noite chove prata filha da puta
E aqui nenhuma teoria é a prova de bala
Venha visitar nossa boca quando precisar se entreter
Nós temos novas drogas
Cinco dimensões pra você se divertir
Eu só precisava sobreviver sob o signo do fracasso
Lavem a culpa da suas mãos com sangue preto
Pois eu sempre soube do risco
Seria assim eu o responsável pelo meu próprio genocídio?
Aqui do alto tudo desaba diante de uma unica certeza
Amanhã vai ser pior
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2. |
Oba, Lá Vem Ele
03:25
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Oba la vem ele com suas promessas vazias
Preenche nosso anseio de justiça seletiva
Com intolerância histérica
Oba la vem ele sendo a manifestação
De quem estabelece seu padrão
Repulsivo e racista
Oba la vem eles
De mãos atadas e orgulho ferido
Pois o pecado alheio é sempre mais verde
O maniqueísmo dos filhos da puta de bem
O honesto reflexo do seu povo
Pelo brasil
Pela família tradicional
Por um deus impiedoso que me abomina
Oba la vem ele
Ele não?
Mas quantos outros eles?
Por de baixo
Dos panos
Dos planos
E das intenções
Pela violência estatal
Contra as liberdades individuais
Oba la vem
Ressurjo das cinzas de um ódio
Insurrecto por um desejo de vingança
Não consumado
Que apodrece minha carne
Até quando dizer "até quando?"
Vai ser o prenúncio de um fracasso?
Pré estabelecido
Inerente a tudo que existe
E que me consome copiosamente
Oba la vem ele
Até quando a existência do meu povo só vai servir de mártir?
Até onde te cabe a revolta? se com ela a sensação de impotência
Te faz inexoravelmente preso num estado terminal
Outro preto figurando estatísticas
Outro morte sem face
Brutalidade policial me arranca o resto de dignidade
E no dia seguinte uma nota de roda pé
Acompanhada por inverdades
E um grande e enorme foda-se
Estampado na face de seus espectadores
Quem sou eu? pois eu sei muito bem quem são vocês
Fascistas filhos da puta
E mesmo que eu afunde
Eu vou afundar mandando vocês se fuder
Oba lá vem
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3. |
Minha Juventude
05:25
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Minha juventude
É culta e amigável
Temos as psiques em pleno gozo
Todos os astros alinhados
Minha juventude
Joga cartas, adivinha o futuro
Trata a prole feito animal domesticável
Tão fácil
Minha juventude é passional e acolhedora
Julga e condena entende o problema
Sequer enxerga um palmo a frente
Isso é o que nos separa
Sua resistência são teorias impraticáveis
Minha resistência é botar o pé pra fora de casa
Isso é o que nos separa
Qualquer passo é um passo a frente
Sob a neblina da ignorância
Nós temos uma cruz no lugar da ignição
Qualquer passo é um passo em falso
Sob a neblina da ignorância
Um salto no escuro, um salto na fé
Caindo indefinidamente num abismo de falsas convicções
Quando o medo no olhar da presa se torna o próprio banquete
A humanidade nada resta apenas um desejo
A lei do mais forte se torna a lei dos covardes
Nós temos armas
Onde foi parar toda a sua audácia
Quando nós temos armas?
Sob o impulso do medo
Sob pulsão de morte
Descrença e ódio desenfreado
Triturando e engolindo palavras de ordem
Totalitarismo e individualidade
Já não representam dois lados da mesma moeda
Sempre fui eu por eu mesmo
Então não sei qual é a surpresa
Nós temos álgebra
Sob toda margem de erro premeditada
(nos temos álgebra)
Sem sedução e nem imagem
(nós temos álgebra)
Eu reúno meus ossos quebrados e me levanto mais uma vez
(nós temos álgebra)
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4. |
Amanhã Vai Ser Pior
10:44
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Amanheço numa baía de peixes mortos
Engordados por petróleo e lixo plastico
O céu é sempre vermelho escuro
O sol nunca brota
Fazemos o nosso próprio horário
Nossos banhos de sol imaginários
Assim como o que dar de comer a nossos filhos
Aventurados ou imbecis
Aqueles que pensam que existe recurso fora dessas terras
Toda geografia fora mapeada
Não existe terra virgem
Rasamos por terras proibidas
Coagidos pela fé de hectares divinos
Oferecemos uma morte sem face e sem dignidade em troca
Deito e me levanto sob um desejo de vingança nada poético
Que invade cada um dos cenários que visito
Todas as garagens e estacionamentos dessa cidade
Que já me foram consumados a morte
Meu lábios tremem
Meu calcanhar fraquejado
Aceitar e desistir
Tem exatamente o mesmo saldo
Uma mulher foge com seu rebento
Caminhando sem destino por oito dias seguidos
Sem qualquer mantimento se enfia em um esgoto
Tentando preservar o minimo de dignidade ao falecer
O ranger de botas cada vez mais ensurdecedor
Acompanhado da risada fascista e escandalosa
Daqueles que a perseguem alerta o inevitável
Ela olha pra sua cria que delira de fome de desidratação
É só uma criança e não entende o que é sobreviver
A mulher então a beira de um colapso
E copiosamente desnutrida deseja uma ultima refeição
A tampa do bueiro começa a ranger
Ela chora desesperadamente
Pois sabe que eles não vão tirar só a vida
Mas também a inocência de seu rebento
Estranhamente o que já não havia em seu estômago
Sai em forma de vômito ao imaginar tal cena
Ela se aproxima
Passa a língua entre a gengiva e os dentes que lhe restam
Ela sente aquela pele fina se soltar facilmente sob a carne
E num sobre-humano esforço tenta se manter em silêncio
Sussurrando repetidas vezes por misericórdia
A ideia de um deus misericordioso é extremamente sedutora
E supera a razão ou qualquer movimento "assertativo"
Isso que mantém um morro de pé
Isso que mantém um negro serviçal
Não muito longe dali eu vi jesus cristo
Descalço e sujo a pedir esmolas
A caminho do centro do rio de janeiro todos os carros se calavam
Não havia ninguém nas ruas
E em meio a praça pública um cartaz pintado com sangue inocente dizia:
"amanhã vai ser pior"
Um futuro promissor abreviado por uma geografia ingrata
Uma morte sem identidade
Outro crime sem face
Como o de hoje
Como o de amanhã e sempre
Rio de janeiro seja pelo calor ou pela violência
Nós fizemos o nosso próprio inferno
Mas temos um mar de sangue pra você se refrescar
Escore nos seus privilégios pra não se afogar
Um desejo de vingança e nada mais
Sem poesia e sem glamourização
Rasamos por terras proibidas
Imbecis ou aventurados
Nascemos e morremos no mesmo quintal
Nós nascemos e morremos exatamente no mesmo quintal
Pátria amada
Autoridades idolatradas
Durante todo o percurso gritando as palavras que já cantei
E mesmo assim é impossível de me fazer entender
Até quando a existência do meu povo só vai servir de linha de frente?
Hein?
E você ainda acha que isso tudo é pra te dizer "eu te avisei"?
Hein?
Os movimentos repetitivos
A mão de obra escrava
A carne mais barata
A fé de hectares divinos
Automação
Castidade
Isso que me mantém de pé(?)
Isso que me mantém um serviçal(?)
O céu vermelho escuro
Os banhos de sol imaginários
O que dar de comer a teus filhos
Essas grades e farpas que me rasgam os dedos
Que me separam do céu
Eu vi jesus cristo descalço e sujo
Implorando por misericórdia
No centro da cidade a luz do dia
Um cartaz em praça publica manchado com sangue inocente dizia:
"amanhã vai ser pior"
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5. |
Insurrecto
06:54
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Usava um acesso de fúria como acessório
A estrangular seu senso de julgamento
Sua mulher e filha estupradas
Como você se sentiria?
Seu pai executado na porta de casa
Como você se sentiria?
A certeza da impunidade
Uma infância negligenciada
O coturno interrompe o fôlego
Você não precisa responder
Você é seu deus e seu animal de estimação
Rastros de gestos sedutores
Seus polegares redutores
Meus sonhos redutíveis
Meus planos dedutíveis
Nós fomos feitos um pro outro
O meu prazer e o meu azar
Me aguardam no segundo andar
Diga a eles que não me arrependo
Caso for descoberto
E mesmo que a farpa me rasgue as pálpebras
Eu quero ver o meu azar de perto
Eu podia ser agressivo feito fogo
Eu preferi a calma e a violência da água
Mas o mar era indiferente a minha rebelião
Eu olho pro céu e sinto vontade de chorar
Um segundo depois essa vontade não mais existe
Criei cenários que sequer perpassam a imaginação alheia
Escolhi os inimigos errados a dedo
E ainda assim não pude me ajudar a não me sentir derrotado pelos mesmos
Esse soluço que mais incomoda do que comove
É o que urge o choro
Sera que eu vou voltar pra casa?
Sera que alguém vai achar meu corpo?
Ainda assim confiei
Não foi deus quem me moldou insurrecto
Ele sempre nasce pior
Nasce um pouco mais feio
Até não nascer mais
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Cosmonauta Fantasma Rio De Janeiro, Brazil
One man band de garage punk/noise
e lo-fi por falta de opção
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